A paz da redenção!
Por Gutierres Fernandes Siqueira
Transcrição do sermão pregado no acampamento de adolescentes e jovens da Igreja Cristã da Família, em Várzea Grande Paulista (SP), em 1º de março de 2025.

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O tema sugerido para esta noite, e que peço que me acompanhem, é encontrado em Romanos, capítulo 5. Abram suas Bíblias, celulares, tablets, ou até mesmo seus relógios, que agora têm aplicativos de Bíblia. Em Romanos, capítulo 5, leremos alguns versículos desse trecho conhecido da epístola de Paulo aos Romanos, a partir do versículo primeiro. Quem encontrou, diga um “Amém” bem forte! Melhorou.
O texto diz: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou o seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo,3 que ele nos concedeu.”
Mantenham suas Bíblias abertas. Quem aqui deseja ir para o céu? Todos nós! Todo cristão, e até mesmo aqueles criados em uma cultura cristã, desejam ir para o céu. Imaginamos que um dia morreremos, ou Jesus voltará, e habitaremos para sempre no céu. É curioso como existem diversas imagens culturais sobre o céu que não são bíblicas, mas que as pessoas internalizaram. Uma dessas imagens é a de que estaremos no céu entre as nuvens, pulando de uma para outra, sem direção, em uma atividade tediosa. De repente, ao passar para outra nuvem, vemos um anjinho tocando harpa. Essa, no entanto, não é a imagem bíblica do céu. Aliás, não é uma imagem teológica ou histórica, mas sim uma concepção popular equivocada.
A Bíblia apresenta um conceito de céu muito mais amplo. De fato, o céu é uma dimensão além desta terra, frequentemente descrito como algo acima de nós, mas, na verdade, é outra dimensão, inacessível à força humana. Não é possível alcançar o céu com naves espaciais. O céu é uma outra dimensão. Ao mesmo tempo, a Bíblia associa o céu à própria presença de Deus. Estar na presença do Senhor é experimentar um pedaço do céu. Assim, em cultos, em casa, ou em oração, experimentamos um pedacinho do céu. Portanto, ao desejar ir para o céu, devemos entender que já podemos experimentar um pouco dele agora, nesta noite. Aliás, já estamos experimentando, pois estamos na presença do Senhor, cultuando-o.
Existem várias formas de experimentar o céu, pois “céu” também significa o Reino de Deus consumado, concretizado. Jesus afirmou que o Reino de Deus já está entre nós, ou seja, um pedaço do céu já está presente. Paulo, em Romanos, explica que o Reino de Deus não é material, não é comida ou bebida, mas sim alegria, paz e justiça no Espírito Santo. O ato de ser justo e correto. Dependendo do nosso estilo de vida, podemos estar vivendo, ou não, um pedaço do céu. Viver em justiça e alegria no Espírito Santo — não qualquer alegria, mas aquela produzida pelo Espírito — e em paz.
Vivemos em um mundo perturbado e caótico, com tecnologia suficiente para a autodestruição. Existem bombas atômicas, principalmente entre os Estados Unidos e a Rússia, capazes de destruir o planeta várias vezes. O ser humano criou essa tecnologia que, felizmente, permanece guardada. Como brasileiros, acreditamos que seríamos os últimos a morrer em uma guerra nuclear, junto com nossos amigos da África do Sul. Mas a morte seria terrível, com um inverno nuclear seguido de calor escaldante. Vivemos em um mundo tenso, onde as guerras são constantes e os erros do passado se repetem.
No início da pandemia, muitos acreditavam em um mundo melhor, com pessoas mais respeitosas e compreensivas após a tribulação. No entanto, a pandemia passou, e a ignorância, as brigas e as disputas continuam, talvez até piores. O mundo não aprende e repete erros. A má notícia é que, sendo jovens, vocês viverão muito e testemunharão a repetição desses erros. A boa notícia é que vocês podem viver nesse mundo com Jesus. Essa é a grande notícia! Enfrentar um mundo difícil sem Jesus é complicado, mas com Ele, tudo se torna mais fácil. Não porque a vida se tornará um mar de rosas, mas porque viver com Jesus é ter uma âncora, uma esperança, uma segurança que muitos não possuem.
Vivemos tempos difíceis, com crescente desesperança, especialmente entre os jovens. Muitos não têm perspectiva, olham para o futuro sem ver nada. Há um grande número de jovens na “geração nem-nem” — nem estudam, nem trabalham. É claro que, em um retiro, ninguém admitiria pertencer a essa geração. Mas essa geração existe. Recentemente, li sobre um jovem aprendiz que não aparecia na empresa. O patrão, preocupado, perguntou o que havia acontecido. O jovem respondeu que não foi trabalhar porque a mãe estava sem carro, e ele não andava de trem ou ônibus. Essa é a realidade de alguns.
“O que você quer ser no futuro?”, “Não sei.” “O que você sonha em fazer?”. “Não sei”. Quero que, nesta noite, vocês saiam daqui sabendo o que farão. Não me refiro à profissão ou planos de casamento, mas sim à certeza de que, em toda a vida, servirão a Jesus para a glória de Deus. Independentemente da profissão, o propósito é fazer tudo para a glória de Deus. Não somos uma geração sem propósito, mas uma geração com o alvo de servir a Cristo e proclamar Seu Reino, vivenciando-o.
Um dos aspectos do Reino de Deus é a paz, tão necessária neste mundo perturbado. Paulo afirma que fomos justificados pela fé, declarados justos pelo sacrifício de Jesus, que assumiu nossa culpa. Assim, somos considerados inocentes, não por ausência de pecado, mas porque Jesus assumiu nossa culpa. Todos que proclamam Jesus são justificados pela fé, pois Ele morreu em nosso lugar. A consequência é a paz com Deus. Ter paz não é apenas tranquilidade em meio ao caos, mas, primeiramente, reconciliação com o Senhor. Ninguém alcança a paz verdadeira sem antes ter paz com Deus, sem passar pela redenção.
Pergunto: quem aqui é filho de crente? Provavelmente, a maioria. Ser filho de crente é um privilégio, pois cresceram sem os desafios enfrentados por seus pais ou avós, que se converteram adultos. Talvez não tenham enfrentado tentações como drogas, álcool ou depravação. No entanto, essa posição é perigosa, pois podemos confundir a experiência de nossos pais com Deus com a nossa própria experiência. Deus não tem netos, apenas filhos. A fé de seus pais os ajuda até certo ponto, mas chegará o momento da decisão pessoal. Vocês estão em uma fase crucial, prestes a sair de casa e tomar as rédeas de suas vidas. É nessa fase que muitos jovens se afastam da igreja, muitas vezes atribuindo a culpa à faculdade. No entanto, conheço jovens que saíram da igreja sem entrar na faculdade e militares que se desviaram. A questão é a chegada da independência. Se dependemos da fé de nossos pais e não estamos mais sob sua proteção, podemos nos perder.
É fundamental ter nossa própria fé, experiência e confiança em Jesus. Talvez não precisemos de uma conversão dramática, mas precisamos ter a consciência de que Jesus morreu por nós, pecadores, e que Ele é nosso Salvador. Precisamos dessa consciência e fé para ter paz com Deus, reconciliando-nos com Ele. Não podemos ter paz com quem não estamos reconciliados. A paz com Deus é resultado da reconciliação. Não somos mais inimigos, mas filhos, pois nos reconciliamos com o Pai.
Mesmo nascidos na igreja, conhecendo os trejeitos e o “evangeliquês”, a pergunta crucial é: temos um compromisso com o Cristo do Evangelho? Tivemos um encontro pessoal com Jesus? A paz com Deus é consequência da justificação pela fé. E como somos justificados? Confiando em Deus. Entreguem seus corações a Jesus nesta noite. Não saiam daqui sem dizer: “Senhor, entrego meu coração a Ti. Não quero viver a fé dos meus pais, mas a minha própria fé. Quero cultivar minha confiança em Ti, para que, ao sair da proteção dos meus pais, eu continue firme. Quero viver reconciliado contigo.”
A paz com Deus tem uma dimensão vertical (com Deus) e horizontal (com o próximo). É impossível ter paz com Deus e viver em conflito com os irmãos. A reconciliação com o próximo é consequência natural da reconciliação com Deus. Não há espaço para ressentimento, raiva, rancor ou falta de perdão, apenas para reconciliação. Isso é viver a redenção, um pedaço do céu. Quando a Bíblia fala do céu como realidade presente, refere-se a viver o modo de vida celestial, de reconciliação, não de ódio. O ódio é um modo de vida infernal, enquanto o amor, a compaixão e o perdão são celestiais. Odiar alguém é ter uma visão infernal, mas orar por essa pessoa, desejando sua transformação, é viver o modo de vida do céu, um espaço de restauração.
O céu tem consequências práticas hoje: paz com Deus e com o próximo. Paulo nos exorta a viver em paz com todos, se possível. Nem sempre é possível, pois não depende só de nós, mas devemos nos esforçar. Não há espaço para brigas, mas para reconciliação. Além da dimensão vertical e horizontal, há a dimensão interna: paz conosco. Essa é a paz de dormir e acordar tranquilo, como o salmista: “Me deitei, dormi e acordei, porque o Senhor me sustentou.” Nenhum demônio ou pecado nos perturba, pois Jesus nos lembra que somos justificados pela fé. Quando o mal nos tenta, o Espírito Santo nos lembra que somos servos de Deus. Nada melhor do que essa paz que aquieta a alma. Um interior turbado afeta toda a vida. Quando temos paz com Deus e com o próximo, sabemos nossa posição no mundo: somos filhos de Deus, reconciliados com Cristo.
Em um mundo perturbador, podemos afirmar: “Sou filho de Deus, servo de Jesus, sei quem sou.” Não há confusão sobre nossa identidade, pois vivemos uma crise de identidade, onde as pessoas mudam constantemente, seguindo modismos. Mas nós, como servos de Cristo, sabemos nossa posição: soldados de Cristo, filhos e amigos de Deus. Temos lugar no mundo, não por status ou dinheiro, mas pelo que Deus fez por nós na cruz. Paulo afirma que, por meio de Cristo, obtivemos acesso à graça e nos alegramos na esperança da glória de Deus. Podemos nos alegrar porque temos paz com Deus, com o próximo e conosco, pois sabemos quem somos: filhos, servos e amigos. Que tranquilidade saber que servimos a um Senhor bondoso, que somos amigos de Deus como Abraão e filhos com um Pai amoroso.
Talvez, em suas vidas pessoais, falte direção, pais presentes ou clareza sobre o futuro profissional. Mas, na vida espiritual, vocês têm direção, pois Cristo os encontrou. E não foram vocês que encontraram Jesus, mas Ele quem os escolheu, por meio de Deus Pai, reconciliando-nos antes da fundação do mundo. Isso é maravilhoso! Paulo nos lembra que nos gloriamos nas tribulações. Profetizo: vocês terão decepções. A vida é difícil, haverá planos frustrados, desejos não realizados e dores. Mas as tribulações não representam o fim. Lembrem-se: a frustração não é o fim. Cristo é o alfa e o ômega, o princípio e o fim. Podemos perseverar, pois a tribulação produz perseverança, que gera um caráter aprovado, que, por sua vez, produz esperança.
A frustração nos fortalece, pois temos perseverança e sabemos em quem cremos. O caráter aprovado produz esperança. Redenção é ter esperança. A pior perda é a da esperança. Riquezas e bens não substituem a esperança, que é olhar para o futuro e saber que haverá um amanhã, porque Jesus ressuscitou. Somos o povo da esperança. Parem de ser amargos e pessimistas! Deixem o pessimismo para os velhos. Vocês têm uma longa vida pela frente, e, acima de tudo, servem a Cristo, que enche nossos corações de esperança. Olhem para o futuro com a certeza de que Deus abre possibilidades e mostra a direção: servir a Jesus.
A esperança em Cristo não decepciona, ao contrário da esperança no mundo, na política ou em ideologias. Que pobreza acreditar em promessas vazias! Acreditem naquele que morreu e ressuscitou, que cumpriu Suas palavras e criou todas as coisas. A esperança de Cristo nos permite olhar para o amanhã com confiança. Jovem, não perca a esperança. O estilo de vida frenético nos leva à desesperança, mas lembre-se de que serve a um Cristo que traz esperança. A mensagem do mundo é negativa, mas a mensagem de Cristo é positiva, e não uma positividade vazia como a de um coach, mas uma esperança eterna, que não se corrompe.
Paulo afirma que a esperança não nos decepciona porque Deus derramou Seu amor em nossos corações por meio do Espírito Santo. Deus não só enche, mas inunda nossos corações com o amor do Espírito, que possibilita a reconciliação e quebra barreiras de ressentimento. Esse amor nos permite ver além, saber que a vida é mais do que objetos e atividades mecânicas. Vivemos para a glória de Deus, para exaltar e viver em torno de Jesus. Nada é mais importante do que ter fé, esperança e amor, como Paulo resume em 1 Coríntios 13. Ser redimido é viver com fé (confiança em Deus), esperança (foco e confiança em Deus) e amor, que nos permite amar a Deus e ao próximo.
O estilo de vida do mundo é o oposto: desespero, desconfiança e raiva. O desespero surge quando a vida se resume ao material. Realizar um grande sonho cedo demais pode gerar frustração, pois precisamos sempre olhar para frente e avançar. Servir a Jesus é bom porque, por mais que avancemos, o alvo da estatura perfeita sempre estará além. A frustração tem contaminado muitos, e tentamos preencher esse vazio com coisas materiais ou vícios. Mas a libertação de qualquer vício não vem apenas da força de vontade, mas da substituição da fonte de satisfação. Se Jesus for nossa satisfação, vencemos o vício, pois a satisfação em Jesus não é autodestrutiva. A satisfação do mundo é destrutiva, pois gera ansiedade e nos consome. Mas quanto mais experimentamos Jesus, mais libertos ficamos.
A paz de Jesus é libertadora, traz alegria duradoura e satisfação. Resumindo: paz com Deus é consequência da salvação. Se ainda não experimentaram a salvação, reflitam e orem sobre isso. Essa paz não é produzida por nós, mas vem de Deus, reconciliando-nos com Ele. Isso permite ter paz conosco e com os outros, crescendo em caráter e experiência com Deus, em uma relação pessoal e direta. Assim, vivemos uma vida redimida. Paulo afirma que o Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Além da paz e alegria, a justiça é fundamental. Ao viver o pedacinho do céu, temos uma vida justa, promovendo justiça e reconciliação, sendo canais de vida, paz e não ódio. Somos transmissores do Reino de Deus, como a lua reflete a luz do sol, ou, como Paulo diz, o bom perfume de Jesus, transmitindo Sua paz.
Que possamos ser pessoas que lembram Jesus, que exalam Seu bom perfume e transmitem Sua paz. Agora, convido vocês a orarem e se colocarem de pé. Você sabe, em seu íntimo, se já entregou seu coração a Jesus. Se ainda não o fez, faça uma oração comigo, em silêncio, entregando seu coração a Jesus. Em seguida, oraremos para sermos canais de paz. O mundo está cheio de ruído; a igreja deve emitir um som diferente. Enquanto a banda toca, concentremo-nos em oração.