Gutierres Fernandes Siqueira
2 min readAug 13, 2020

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Uma ação antidemocrática contra os evangélicos
 
Por Gutierres Fernandes Siqueira
 
Em 2007, no primeiro ano de faculdade, a minha professora de filosofia falou que a Bancada Evangélica era o maior risco à democracia brasileira. Quando me identifiquei como evangélico e perguntei o motivo, ela gaguejou e disse: “Há evangélicos e evangélicos”, querendo dizer com isso que não estava generalizando, embora estivesse.

Agora, o Tribunal Superior Eleitoral está para julgar (ou melhor, legislar, o que é um absurdo) o chamado “abuso religioso” em matéria eleitoral. Ou seja, qualquer atividade política-partidária envolvendo espaços eclesiásticos será totalmente proibida. Embora eu seja contra essa prática e, também, acredito que a igreja não deve ser campo partidário, não posso concordar que o Estado faça essa proibição. Cabe a cada comunidade a decisão se essa prática é compatível ou não com a ética pregada e confessada, mas não cabe ao Estado fazer essa censura.
 
Vejamos alguns pontos:
 
01. Alguns alegam riscos à democracia apenas porque os evangélicos tendem a votar em quem eles não gostam. Quando os evangélicos votaram em peso no Lula em 2002, inclusive com o apoio de muitos pastores, ninguém falava em “abuso religioso”.
 
02. Por que os sindicatos, ONGs, organizações de bairro, etc. podem exercer política partidária em seus espaços e meios de comunicação, mas as igrejas não podem? É uma seletividade absurda.
 
03. Ao “proteger” os evangélicos de qualquer influência partidária dentro de suas comunidades, os defensores da censura parecem entender que os evangélicos são “tabula rasa” que seguem cegamente qualquer coisa que os pastores ou líderes falam. É uma visão claramente elitista e preconceituosa. É bom lembrar que no Escândalo das Sanguessugas em 2006, que envolveu vários membros da Bancada Evangélica, nenhum dos envolvidos foi reeleito. Os evangélicos seriam, assim, tão bobinhos? Na década de 1940, quando muitos ainda se opunham ao voto das mulheres, dizia-se que as mulheres eram influenciáveis e que votariam em quem o padre mandasse. Observa-se o mesmo tipo de preconceito com os evangélicos.
 
 
04. Os seminários teológicos ligados à Teologia da Libertação, assim como as Comunidades Eclesiais de Base (CEB), serão proibidas de proselitismo partidário? Ou essa nova lei serviria apenas para os cristãos evangélicos que votam na direita?
 
Além de inconstitucional, como apontam vários juristas, a Lei do Abuso de Poder Religioso tem um viés preconceituoso contra os evangélicos. O evangélico não é um cidadão de segunda classe, sem discernimento e sem a possibilidade de exercer, caso queira, a sua atividade partidária entre os seus pares. Embora, repito, eu rejeite o uso do espaço eclesiástico para propaganda política, especialmente o momento do culto solene, quero apenas que a comunidade que faço parte tome essa decisão, mas nunca o Estado.

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